Um hectare de vinha é quanto basta para mudar a vida de pessoas com doença mental crónica ou doença física. Se juntarmos à necessidade de mão de obra na vinha a formação em contexto de trabalho, temos uma receita para produzir um vinho muito especial.
Tolerantia: Vitivinicultura Inclusiva é um dos vencedores do Prémio BPI Fundação “la Caixa” Capacitar, com um projeto que tem o objetivo de desenvolver as capacidades profissionais e a autonomia deste universo de pessoas.
A Fundação ADFP- Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional é a criadora deste projeto que vai incluir utentes residentes e não residentes da instituição, desde os dezoito até perto dos 50 anos de idade.
A Fundação, sediada em Miranda do Corvo, presta apoio a crianças retiradas às famílias, a idosos, a pessoas com doença mental e doença física, a mulheres vítimas de violência e a refugiados. A todas estas pessoas, a instituição quer demonstrar que não estão sozinhas e que têm valor, quer descobrir os seus talentos e apoiá-las a desenvolver autonomia, adaptada a cada situação.
Numa região de vinha e de vinho, a Fundação ADFP já tinha a experiência da participação dos utentes com doença mental e física nas vindimas. O entusiasmo com que aderiam está na base do projeto Tolerantia. Com um hectare de terreno para trabalharem e com a formação adequada, estas pessoas vão desenvolver capacidades psicossociais, ganhar autonomia através de um ofício e até responder às necessidades de mão-de-obra na região.
Depois de formados, alguns utentes ficam na exploração agrícola de doze hectares, propriedade da Fundação, outros vão trabalhar com produtores da zona. Mesmo sendo residentes, têm transporte fornecido pela instituição para as deslocações diárias. É aqui que a palavra inclusão se torna realidade e é posta em prática junto da comunidade. Gonçalo Costa, um dos responsáveis pelo projeto, sublinha que “é necessário que a inclusão seja verdadeiramente inclusiva”!
O Tolerantia, que já é marca registada, vai dar nome ao vinho produzido. Os utentes vão trabalhar em todo o processo de produção, até ao engarrafamento. A formação começa em Outubro com a poda da vinha, com vinte e cinco pessoas, mas o objetivo é aumentar os participantes e a produção.
O projeto pode vir a criar ainda um vinho sem álcool, para que estes novos profissionais possam provar o seu próprio vinho. Com a devida adaptação ao ritmo e às condições físicas e mentais destes novos produtores, tudo acontece.
No momento em que sair para o mercado, o Tolerantia leva na garrafa muito mais do que vinho.