A riqueza da diversidade geográfica da Ilha de São Miguel cria também desigualdades culturais e sociais que importa esbater. A cultura, enquanto instrumento de inclusão, valoriza e une territórios distantes, ao mesmo tempo que combate o êxodo rural.
Cultura à Porta, Plataforma Itinerante de Inclusão pela Cultura, é um projeto que a Ilha já conhece há vários anos, mas que ganha novo fôlego com a distinção do Prémio BPI Fundação “la Caixa” Rural.
O objetivo do Cultura à Porta é levar a cultura a pessoas geograficamente afastadas do centro da cidade de Ponta Delgada, onde estão concentrados os eventos culturais. O desequilíbrio em termos de experiências culturais é muito grande entre as zonas urbanas e as zonas rurais, onde as populações se sentem excluídas.
Com este projeto, a CRESAÇOR, Cooperativa Regional de Economia Solidária, quer levar a cultura aos lugares mais distantes e também trazer as pessoas aos eventos da cidade, proporcionando novas experiências culturais nas áreas da dança, do teatro, do cinema, da música ou das exposições.
Pretende-se aliar as tradições regionais com as manifestações contemporâneas, de modo a valorizar, celebrar e perpetuar as manifestações culturais da ilha de São Miguel.
O projeto já vem sendo testado com intervenções locais em colaboração com o Museu Carlos machado e agora ganha maior itinerância com o Prémio Rural, que vem permitir adquirir uma carrinha. Trata-se de um meio de transporte importante para levar a Cultura à Porta, mas não só. Ela própria é um lugar onde vão ser realizadas sessões culturais.
Por um lado a cultura pode ir a territórios mais distantes e de difícil acesso e, por outro, as pessoas que vivem em zonas rurais podem participar em eventos na cidade sem o constrangimento provocado por uma rede de transportes que não serve todas as zonas e que tem horários reduzidos.
O Cultura à Porta desenvolve cinco ações diferentes: Roteiro de Ponta a Ponta, Tração, Estórias que Têm História, Trilhos Pensantes e À Beira da Estrada.
O Roteiro de Ponta a Ponta vai juntar quatro freguesias distantes da ilha e sinalizar estórias, lengalengas e ditados que os idosos guardam no seu património pessoal. A partir das estórias nasce um roteiro que valoriza cada um dos territórios.
Tração é um projeto de dança, com residências em movimento, que junta o folclore à música pimba. Duas freguesias também distantes vão estar envolvidas nesta ação que faz a fusão de dois estilos diferentes, um é património regional imaterial, outro é um estilo muito familiar na região.
Estórias que Têm História celebra os vários escritores açorianos, de São Miguel e de todas as ilhas. O objetivo é desenvolver esta ação com pessoas não ativas, trabalhar com eles os escritores e através destes descreverem as suas próprias estórias de vida.
Trilhos Pensantes leva os jovens inativos da ilha, que não estão a trabalhar, a estudar ou em formação, a fazerem passeios na ilha para valorizarem o património natural enquanto se questionam sobre a sua própria vida. A ação vai aliar estes passeios a pequenas reuniões e pic-nics, em que os jovens refletem sobre a escolha de um caminho para si.
À Beira da Estrada é a última das cinco ações do projeto e aproveita algo que é muito tradicional nos Açores, os pic-nics à beira da estrada. Aqui se vão juntar os participantes de todas as outras ações, numa celebração de diversidade, com variadas manifestações culturais.
O projeto beneficia em particular pessoas inativas que residem nos territórios rurais mais afastados: domésticas, desempregados, pessoas idosas e jovens que não estudam nem trabalham. O foco nestes grupos de pessoas pretende abrir as portas para uma maior integração na comunidade.